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Os desastres de trânsito em números

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Com o objetivo de provocar o debate sobre a segunda maior causa de mortes no país, profissionais compilam dados públicos em infográfico acessível

Qual o tamanho, em números, das tragédias de trânsito que acontecem todos os dias nas cidades brasileiras? Três profissionais das áreas de comunicação e design buscaram uma maneira objetiva, simples e visual de responder a essa pergunta com o propósito de chamar a atenção para um tema que, apesar de grave – é a segunda maior causa de mortes no país – ainda é negligenciado pelo poder público e pela imprensa. “Nosso público-alvo é o cidadão brasileiro, tanto quem já se interessa pelo assunto quanto quem não faz a menor ideia dos números assustadores que encontramos no caminho”, explica o videomaker Thiago Vecks, um dos idealizadores do infográfico. “A ideia do Infoviz é que ele informe as pessoas de maneira rápida, direta e muito pontual sobre a questão que estamos abordando. Essa é uma informação que afeta 100% da população, por isso queremos que o trabalho alcance o maior número de pessoas possível, que faça barulho e abra o debate”, completa a jornalista Diana Assennato, outra realizadora do projeto.

Além de Vecks e Diana, o designer e infografista Thomaz Rezende também trabalhou ao longo de 2013 na pesquisa de dados e no tratamento visual dos números. Baseado em dados consolidados de 2010, o Infoviz traz informações sobre número de mortes no trânsito por habitante, por categoria de usuário, feridos, internações em leitos de traumatologia na rede pública, número de veículos emplacados por ano, veículos por habitante, comparativo de mortes por países e outros indicadores. Um dos dados mais alarmantes é o da causa de mortes por acidente na infância (0 a 14 anos): desastres de trânsito são responsáveis por 43,7% dos óbitos, liderando uma lista com outras quatro causas. “O problema existe há décadas, mas por estarmos imersos nele não percebemos a gravidade”, alerta Vecks.

 

Informação e o poder público

O grupo encontrou duas importantes dificuldades para desenvolver o Infoviz, ambas no processo de pesquisa. A primeira foi entender como cada um dos órgãos públicos responsáveis por dados de trânsito – por exemplo, DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo) e DATASUS (Banco de Dados do Sistema Único de Saúde) – efetuam a contabilidade das mortes. Como havia disparidades entre os números obtidos, foi preciso cruzar e checar dados para evitar sobreposições e inconsistências. A segunda dificuldade foi o acesso às informações públicas, que algumas vezes tardavam demais a serem disponibilizadas nos sites oficiais e, em outras, estavam localizadas em sistemas de busca pouco acessíveis mesmo para usuários com habilidade nesse tipo de pesquisa.

“Tivemos ajuda de pessoas incríveis, verdadeiramente interessadas e informadas sobre o tema. Em compensação, com todos os órgãos governamentais, o melhor que conseguimos foram e-mails automáticos que em nada ajudaram”, informa Thomaz Rezende. Outras fontes de informação pesquisadas foram Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Portal Trânsito BR, ONG Criança Segura, ONG Vias Seguras, International Transport Forum e Rede Nossa São Paulo.

 

Acidente ou crime?

Além de compilar dados fundamentais sobre o tema e disponibilizá-los em um único lugar e com fácil visualização, o infográfico esclarece a diferença entre acidente e crime de trânsito – este último previsto no capítulo XIX do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Acidente, elucida o trabalho, é algo “que não pode ser previsto e que, portanto, não pode ser evitado”, como uma falha mecânica no veículo ou quando o motorista sofre um mal súbito ao volante. Mas ultrapassar em local proibido, dirigir sob efeito de álcool ou acima da velocidade, por exemplo, não são acidentes, e sim atitudes deliberadas – causadoras de 90% das tragédias de trânsito – que podem matar ou ferir, transformando o agente da ação em um criminoso. A pena para quem causa lesão corporal ou mata estando à direção de um veículo pode chegar a dois e quatro anos de detenção, respectivamente, ampliada por até um ou dois anos, para cada um dos crimes, em casos de agravantes previstos no CTB.

“Foi curioso perceber como a nossa desinformação pauta a maneira como tratamos o assunto. Quando algum amigo ou parente é vítima de um crime de trânsito, sem perceber dizemos que foi uma vítima de “acidente”. Não é apenas uma questão de nomenclatura: entender que a tragédia “não foi um acidente” é uma forma de endereçar o problema na direção certa. É isso que queremos mudar”, afirma Vecks.

O Infoviz acaba de ser lançado publicamente, e pode ser baixado neste site: http://www.thomazrezende.com/infograficos/mt/ Há opções para impressão (PDF e PNG) e download dos dados (CSV). A reprodução é livre desde que os três autores sejam citados.

Para mais informações

Thiago Vecks – vecksrocks@gmail.com
Diana Assennato – diana.assennato@gmail.com

Fonte:  thomazrezende.com