Carta Aberta ao Prefeito José Fortunati Sobre as Mortes de Daíse e Patrícia

A Mobicidade lamenta profundamente as mortes das jovens Daíse e Patrícia na semana passada, quando foram atropeladas por ônibus em Porto Alegre. Mas salientamos que elas não foram as primeiras e infelizmente não serão as últimas pessoas a morrerem por ousar participar do trânsito sem a proteção da lataria de um automóvel. Somente no ano passado foram 126 mortes no trânsito da Capital – nos últimos cinco anos foram 690 mortes, quase três vezes o número de mortos na boate Kiss. O fato de essas mortes ocorrerem num intervalo de tempo maior, não é justificativa para não adotarmos medidas tão enérgicas quanto as que estão sendo tomadas para evitar novas tragédias em casas noturnas – pois a causa dessas 690 mortes é a mesma: a falta de políticas públicas e de medidas de engenharia de trânsito que priorizem e garantam a segurança dos mais frágeis no trânsito: pedestres e ciclistas.
Segundo dados da própria EPTC, o número de vítimas fatais por atropelamento cresceu 26% em 2013 e o número de ciclistas mortos no trânsito aumentou 80%.Esses números são inaceitáveis pois não estamos falando de mera matemática, mas de vidas humanas.
As grandes cidades do mundo já perceberam que o caminho para se ter uma cidade com mais qualidade de vida e mais mobilidade é a humanização do trânsito, privilegiando a circulação de pedestres, ciclistas e transporte público coletivo (como inclusive já prevê o Plano Diretor de Porto Alegre). Existem diversas políticas públicas e de engenharia de tráfego que podem desestimular a condução perigosa e irresponsável de veículos, garantindo a segurança de todos que se deslocam na cidade. Alguns exemplos de ações:
  • Elevação das faixas de segurança para o mesmo nível do passeio público – de forma que a faixa de segurança seja uma continuidade das calçadas, onde é o automóvel que entra no domínio do pedestre, e não o contrário;
  • Road Diet – (dieta de ruas), consiste em tornar o tráfego de uma rua mais seguro e eficiente com alterações na distribuição do espaço das diferentes faixas de trânsito;
  • Zonas 30 – estabelecer velocidade máxima de 30km/h em zonas residenciais e outras zonas específicas, tornando a via mais segura para pedestres, ciclistas, crianças e animais de estimação, outro benefício adicional é a redução da poluição sonora – agente causador de estresse e outras doenças;
  • Avanço dos passeios públicos nos cruzamentos e faixas de segurança – o passeio público avança, ocupando a faixa de estacionamento das vias onde o mesmo é permitido, nos cruzamentos e em faixas de segurança. Traz inúmeros benefícios, entre eles: reduz a distância que o pedestre precisa atravessar para chegar até o passeio do lado oposto, evita que carros estacionem nas esquinas ou sobre as faixas de segurança, obriga os veículos a reduzir a velocidade ao fazer conversão,  facilitando a travessia de pedestres, e ainda permite o melhor aproveitamento do passeio público criando mais espaço para a circulação de pessoas em ruas movimentadas.
A Mobicidade se disponibiliza para dialogar e assessorar a Prefeitura Municipal de Porto Alegre para a implementação de qualquer medida de acalmia de tráfego de forma completamente voluntária. Disponibilizamos também nosso Comitê de Educação para elaborar campanhas educativas junto com a EPTC e com os motoristas profissionais de táxi, lotação e ônibus.
Caro prefeito, é hora de escolher qual cidade o senhor quer ajudar a construir: uma cidade onde seja possível cobrir grandes distâncias a altas velocidades em automóveis particulares, ou uma cidade onde haja vida nas ruas, onde as pessoas transitem com segurança, na qual ninguém seja punido com pena de morte por ousar andar a pé, de bicicleta, ou por cometer o grave crime de estar distraído – uma cidade onde também é possível ter um transporte público de qualidade – seguro, confiável e conveniente.
Atenciosamente,
MOBICIDADE – Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta.

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